domingo, 7 de outubro de 2012

Trilhos na capital mineira

Mauro - Esse é um post que há tempos vinha prometido escrever junto com a Luciana. Tema recorrente de nossas conversas, o "Trem metropolitano" mineiro, para os mineiros "metrô". Possui essa designação devido a sua estação Eldorado, no município de Contagem, seu atendimento de acesso ao Centro de Belo Horizonte a diversos municípios da região metropolitana e seu intervalo mínimo (nem sempre constante) de 4 minutos no horário de pico.

Luciana -  Preciso defender o Metrô de BH! Metrô, segundo a Wikipédia - que eu consulto como uma fonte confiabilíssima, sobretudo quando quero defender meu ponto de vista... rsrsrs - vem da palavra metropolitano, por isso os mineiros estão corretos ao designar desse modo o transporte sobre trilhos daqui. Errada, nesse caso, é a Supervia designar trens os transportes do Rio.

Mauro - Quando cheguei em Bh fiquei sabendo que a cidade tinha um metrô. Meu interesse como arquiteto me fez conhecê-lo, e nesse processo tive algumas surpresas. O metrô belo-horizontino no primeiro contato trouxe a imagem clara dos trens da Central do Brasil. Alimentados por fiação aérea, sem arcondicionado e na sua maior extensão circulando por superfície.

Luciana - Bizarra a parada! Choque cultural total. Também tive meu momento de estranhamento, mas claro estético. As estações poderiam ser mais bonitinhas... Acostumada com uma Cinelândia, Carioca ou Siqueira Campos, chego e vejo um monte de caixotes de concreto. Ah, não! Depois que inauguraram a Estação Cidade Nova, dá vergonha alheia a Estação Lagoinha e qual quer outra também... Mas mesmo assim não deixa de ser metrô. Hehehe...

Mauro - Quando mudamos da Serra (bairro da região Centro-sul de BH) para o Camargos (bairro da região Noroeste de BH) utilizamos a proximidade das estações do metrô como um dos critérios para a escolha do imóvel. Durante um bom tempo o contato com o trânsito, engarrafamentos e transporte coletivo da cidade me trouxe uma visão muito negativa da mobilidade na cidade.
Nesse período, quando residiamos no Camargos, fazia parte da minha viagem de metrô (18 min.) e o restante de ônibus através de uma estação de integração próxima a rodoviária na Lagoinha (bairro lindeiro a área central de BH). O metrô sempre foi muito tranquilo, mas ônibus era sempre uma surpresa. Sextas-feiras, jogos do Galo, manifestações na Avenida Afonso Pena, eram motivos suficientes para o transito ficar um caos, e fazer uma viagem de 10 minutos estender em 40 de penitência.

Luciana - Eu, que trabalho em Esmeraldas - cidadezinha da região metropolitana muito distante para os padrões de distância belo-horizontinos, logo ali para os padrões cariocas (o povo que sai da Baixada para o Centro todo dia vai entender) - desde de 2008, comecei a usar o serviço do metrô + ônibus antes mesmo do Mauro. Pelo meu horário de trabalho, sempre peguei o contra-fluxo do metrô e dos ônibus. Tive poucos problemas com o trânsito daqui. Supertranquilo... Mas posso afirmar que quando o trânsito para, para de verdade! Os eventos cataclísmicos do trânsito daqui são um assunto para um outro post...

Mauro - Nas conversas com amigos de trabalho sobre o metrô, fiquei sabendo que ele é uma intervenção relativamente recente (começou a funcionar em 1986). Muitos colegas em Bh nunca utilizaram o metrô e já ouvi muita gente comentar que é um modal que não leva ninguém a lugar algum.

Luciana - Desculpe, mas eu precisava interromper... Quando ouvi essa frase pela primeira vez fiquei chocada "o metrô de Belo Horizonte leva do nada ao lugar nenhum". Morava perto da Estação Cidade Industrial e comecei a me questionar se estava no nada ou no lugar nenhum. O pior é que ouvi a frase de um candidato às eleições na época. Tá explicado o desprezo estético pelas estações... 



Mauro - Aqui em BH, devido ao traçado, a infraestrutura das estações e modelo operacional do metrô, a capacidade do metrô e sua velocidade são reduzidas em comparação as versões de São Paulo e Rio.
Apesar de tudo acredito que metrô daqui é o único modal que permite as pessoas o deslocamento com mais confiança e conforto. Com relação ao ônibus, modal que atende a grande maioria, podemos afirmar que é grande refém do modelo de cidade que Belo Horizonte, hoje, prioriza. O modelo do automóvel.

Luciana - Mauro e seu ódio aos automóveis... Prometo um post sobre os primeiros passeios com o Mauro motorizado e sua mudança de ponto de vista.

Mauro - No metrô as pessoas são bem educadas e até o tumulto de entrada na estação terminal Eldorado é bem mais light se compararmos com as cenas mais tranquilas da entrada do Santa Cruz na Central do Brasil.

Luciana - Ele sisma de comparar o metrô daqui com os trens do Rio. Parece até que nunca fez aquela baldeação (maldita) na Estação do Estácio. Aqui em BH o povo entra tranquilinho, mas também reclama de tudo. Um número maior de pessoas em pé já é motivo para se ouvir: "Isso aqui está parecendo São Paulo!" Dá vontade de colocá-los num vagão da Linha 2 do Rio, no horário do rush.

Mauro - Agora, morando em Contagem (cidade vizinha à BH), sempre pego o metrô na estação Eldorado. Saio de casa de bicicleta e em 10 minutos já estou prendendo a magrela no paraciclo da estação.

A magrela...

Mauro - A experiência, apesar de um pouco trabalhosa, é boa. Não passo raiva, devido ao trânsito, e vou pedalando com brisa da manhã.

Mauro - Vira e mexe o metrô é promessa de campanha eleitoral. A linha 1 já possui alguns problemas operacionais e as outras ainda não sairam do papel. Em abril deste ano a Presidenta Dilma anunciou o encaminhamento de recursos para a expansão do metrô até a Savassi (bairro da zona Centro-Sul de BH) e o Barreiro ( região localizada mais ao sul de BH). Será criada a Metrô Minas e enfim BH e os municípios da região metropolitana poderão parar de reclamar do Governo Federal com relação ao encaminhamento de recursos para o metrô. Hoje o metrô é gerido pela CBTU, e por conta disso não há discurso e ação municipal ou estadual adequado para a sua melhoria. A partir da Metrô Minas vejo que o estado e municipios deverão ser mais pró-ativos em vez de adotar o discurso da reclamação.

Mauro - Em paralelo rola o BRT e projetos de monotrilos até Confins (cidade onde fica o aeroporto de destino pra BH). Tenho esperança que esses modais compartilhem os conceitos já presentes no transporte sobre trilhos e permitam a cidade avançar em modelo mais sustentável de cidade. Enquanto isso defendo o metrô e espero (como meu colega de trabalho gosta de afirmar) "A Mulher Pelada Instantânea¹".

1. Meu colega gosta de afirmar que antes do metrô de BH chegar até a Savassi ele verá uma mulher que aparecerá do nada instantaneamente na frente dele. A mulher não precisa ser bonita ou jovem. É a maneira que ele buscou pra enfatizar a sua descrença no processo de expansão do metrô que se realiza no momento.


domingo, 19 de junho de 2011

Nosso Pão de Queijo de cada dia

Lú - Prometeu ao roubar o fogo dos deuses, roubou algo mais: O Pão de Queijo!
Não consigo muito bem entender o que nos faz procurar por ele quase todos os dias para garantir nosso bem estar...

Mau - Todos os dias quando vou para o trabalho passo em uma pequena venda de bairro e dispenso alguns minutos com um "bom dia" a senhora que me atende e a compra de dois pães de queijo caseiros. De forma diferente muitos Belo horizontinos fazem a seleção do seu café da manhã com acompanhamentos diversos. Ao chegar em Belo Horizonte tive o contato direto com o salgado e percebi que a iguaria é disposta em praticamente toda padaria, lanchonete e restaurante da capital mineira. No Rio existe uma dificuldade maior para comer Pão de queijo e os que são disponibilizados sempre são os pequenos.

Lú - Quando morava no Rio as opções não eram muitas, e os pães de queijo mais gostosos eram os da Casa do Pão de Queijo, que ainda me encanta quando estamos em viagem. E os recheados.... Deliciosos. Aqui em Beagá ainda não encontrei nada que se compare aos pães de queijo recheados da Casa do Pão de Queijo - se alguém conhecer por favor me indique! Mas também os preços daqui ficam bem distantes daqueles encontrados na franquia. Pães de queijo muito baratos, desconfie sempre - essência de queijo em vez de queijo -, pão de queijo caro, pode ser uma oportunidade de chegar ao céu. Mesmo os mais caros não chegam a custar tanto quando os da Casa do Pão de queijo.

Mau - Existem muitos locais onde podemos comprar pão de queijo, alguns são bons e outros muito ruins. Gosto do pão de queijo que possui uma superfície levemente crocante, pode possuir o conteúdo bem cozido, pouco polvilho e bastante queijo. Fujo dos pães de queijo massudos, isto é, muita massa, muito polvilho e pouco queijo. Aqui segue uma lista de locais que considero para comer um bom pão de queijo:
  1. Escola de arquitetura da Ufmg, a lanchonete que fica dentro da escola serve bons pães de queijo.
  2. Lanchonete do metrô da estação Lagoinha, a lanchonete fica logo em frente das roletas de saída da estação e ao lado da loja de peças de bicicletas. O melhor horário é o da manhã pois é o momento de assarem os primeiros pães de queijo.
Lú - Eu incluiria:
  1. O pão de queijo do Centro de Esmeraldas, um deles vendido numa lanchonete perto da Igreja. E aquele delicioso assado na folha de bananeira. Mas esse aí não é feito pra comer sozinho. É enorme.
  2. O pão de queijo vendido na Santíssimo Pão, uma padaria que tem na Serra, bem pertinho de onde morávamos. Saudades do gostinho...
  3. Tem um Café, na avenida Contorno, próximo ao Life Center. O lugar é um charme muito aconchegante e o pão de queijo é muito bom! Pena, não recordo o nome do lugar.
  4. Em Contagem, uma padaria bastante conhecida é a Panificadora Haley. O lugar é uma delícia. Charmoso e serve tudo de gostoso, inclusive, claro, o pão de queijo!





Mau - Eu e a Lú sempre estamos comendo pão de queijo. Algumas vezes no lanche da noite, nos café da manhã dos finais de semana, ou até mesmo nos lanches avulsos que fazemos em diversas ocasiões. Antes no Rio eu poderia contar nos dedos da mão as vezes que comia pão de queijo durante o período de um ano. Particularmente temos uma maneira nossa de comer pão de queijo que consiste em corta-lo pela metade e prensa-lo sobre uma frigideira. O resultado fica bom. Um pão de queijo sempre quentinho e crocante.

Lú - Pão de queijo é viciante. Eu já comia quando morava no Rio. Duduxo, hehehe! Só come Duduxo quem nunca comeu Forno de Minas. O custo-benefício é tudo. Ou mesmo o Perdigão é uma alternativa boa. Pra quem está aqui em Minas, encomendem o pão de queijo da mãe da Liliane. Eles tem uma fábrica e é o melhor pão de queijo congelado que já saboreamos. O único que se você seguir as instruções da embalagem dá certo mesmo. E é uma delícia! (Atenção leia sempre o rótulo, não faça como o Mauro, rsrsrs)

O mais incrível é que em nossas viagens sempre procuramos por ele. Ficamos muito felizes quando encontramos o bom e velho pão de queijo. Acho que nesse caso já estamos nos integrando totalmente às tradições da nova terra...

  • Liliane (Lili Araújo) é minha colega de trabalho e mora em Betim. Ela está no meu Orkut e Facebook. A mãe dela faz o melhor pão de queijo e em vários tamanhos. Fale com ela.

domingo, 5 de junho de 2011

Xirê na Lagoa da Pampulha?


Lu - O acontecimento que vamos relatar aqui, aconteceu conosco há quase três anos, quando eu cursava uma pós-graduação na PUC em Estudos Africanos e Afro-brasileiros. O curso claro, era voltado para os costumes afro-brasileiros. E os amigos leitores que me conhecem, sempre tive o hábito perguntar muito, tirar dúvidas, questionar. Na época aproximavam-se os festejos de 8 de dezembro, Festa de N.S. da Conceição, no sincretismo, Iemanjá.

Lu - Nunca fui perita no assunto religiosidade afro-brasileira, mas morando tantos anos no Rio, conhecia o básico pra pelo menos entender o que estava rolando no Reveillon. Então minha língua coçou, não consegui resistir, tive que perguntar:
__ Professora, Minas não tem mar, essa festa vai ser onde?
__ Na Lagoa da Pampulha! É a coisa mais linda...

Lu - Daí me veio a mente, “se é a coisa mais linda não sei, mas alguém me explica o que Iemanjá tem haver com a Lagoa da Pampulha? Ela é uma lagoa artificial!” Tive que falar:
__ Iemanjá na Lagoa? Lagoa é água doce e a água doce é de Oxum... - Na verdade Oxum estaria num ambiente de água corrente. Estava achando o cúmulo dos cúmulos.

Lu - Quando a professora perguntou quem tinha interesse em participar da festa, eu logo levantei a mão. Não podia perder uma festa pra Rainha do Mar, numa lagoa artificial. Pense comigo: “coisas que só acontecem em minas...”

Lu - Passados alguns dias fomos para a festa que seria num sábado. Fomos de carro: na direção a profa. Íris, ao seu lado o João – que foi o primeiro da turma a fazer a passagem, e temos muitas saudades dele - , atrás Jaqueline, Mauro – convidado especial – e eu. 
 
Mau - Convidado especial?!? Bota especial nisso. Eu não sabia o que esperar do evento. Toda aquela coisa de Iemanjá era nova pra mim. Pra vocês terem uma idéia, nunca vi como era a festa no Reveillon. Mas estava acompanhando a Lú, então tava tudo beleza.

Lú - O tempo não estava essas maravilhas, a tarde caindo, mas mesmo assim fomos para a Lagoa, pois tínhamos a confirmação de que haveria a festa. Eu pensando no absurdo e a Jaque imaginando que lindo seria. E no céu os primeiros raios. A Jaque começou a vibrar. Iansã vem também. Eu ainda zombava quando a chuva começou a cair.

Lú - Sabe a expressão “fração de segundos?” foi o tempo aproximado que levou entre a gota d'água no visor do carro e o caos total. Quando passamos pelo Mineirão não chovia, quando viramos na Lagoa presenciamos o que eu nunca havia visto. A Íris cautelosa guiava o carro e procurava o tal palco. As ondas vinham em nossa direção. Ondas? Sim dava pra surfar na Lagoa da Pampulha. Nossa professora apontou em uma direção e disse:
__ É ali que fica costuma ficar o palco! - Tudo se apagou. Tudo se acendeu. Ela tentou indicar de novo: __ Ali, próximo da estátua de Iemanjá, bem ali... - Tudo se apagou e não vimos nada, só raio cortando o céu.

Mau - Mermão, a parada ficou sinistra. Nós dentro do carro, chuva, trovão, relâmpago e nada de Iemanjá...

Lú - Jaqueline, a mais empolgada do grupo logo disse é Exu brincando com a gente. E as ondas iam e vinham de dentro da Lagoa. Vento forte, trovões e raios cortando o céu, galhos de árvores caindo... Foi quando a Íris resolveu voltar, não havia mais visibilidade. Jaqueline toda feliz dizendo:
__ Viu todos os orixás estão aqui!

Lú - Com muito esforço o carro voltou e quando passamos novamente por aquele ponto onde ficava a estátua de Iemanjá, todas as luzes se apagaram. Estávamos a ponto de sermos levados pelas ondas quando conseguimos sair da orla.

Mau - Fiquei quieto pensando sobre a chuva, como iríamos voltar pra casa e naquele evento que deveria ter sido sabotado por São Pedro...

Lú - Desculpem-me a mistura de egrégoras. São Pedro é da mitologia cristã, estamos falando de mitologia afro-braileira... 

Lú - Nos dias que se seguiram, não sabia muito bem o que pensar. Mas aprendi a lição. Iemanjá pode se manifestar na Lagoa, o que conta é a fé. Nunca mais cheguei num ambiente de Umbanda ou Candomblé sem saudar Exu, nem duvidei das forças da natureza, nem em Minas ou em qualquer outro lugar onde eu esteja. Creio que a partir de então é que tenha surgido minha paixão pela religiosidade afro-brasileira, a qual dedico meus estudos... E a Jaqueline estava certa, aquela foi a festa, um verdadeiro xirê, no qual os orixás foram anfitriões!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Você é Galo ou Cruzeiro?

Mau - Futebol, a paixão nacional. Aqui em Minas não poderia ser diferente. Quando cheguei logo percebi que a cidade estava dividida em duas. Uma parte era alvinegra e a outra azul.

Lu - Futebol é bem mais que um esporte, é como uma herança que passa de pai para filho. São famílias que têm como patrimônio serem alvinegras ou azul-celeste. A coisa é tão séria, que uma vez um dos meus alunos perguntou a minha religião, respondi: " Não tenho". Não quis causar polêmica, e ficou tudo por isso mesmo. Em outra ocasião, perguntaram-me: "Você é Atlético ou Cruzeiro?", e respondi: "Nenhum dos dois, não tenho time". A sala virou um caos, todos protestavam: "Fessora, você precisa ter um time!". Conclusão, por aqui futebol parece ser bem mais imprescindível que religião.

Mau - Ao passar do tempo comecei a ver que as duas torcidas eram muito diferentes. Torcedores do Galo possuiam uma paixão imensa pelo seu time. Como no Hino do Grêmio, os atleticanos não se importavam muito com o baixo rendimento do time, eles estariam onde o Atlético estivesse.

Lu - Em resumo, o torcedor do Galo é o mais apaixonado que já vi. A gigantesca torcida do Flamengo vê o time dar algum resultado. A Fiel também. Mas seguir o Galo... tem que ter muita fé e persistência.

Mau - Já os cruzeirenses tem uma confiança mais moderada, pelos títulos já conquistados, e muito orgulho por possuir um time relativamente organizado. Após os jogos, no trabalho a divisão podia ser vista nos comentários e discussões, na rua pelas buzinadas e manifestações de louvor ao pavilhão vencedor.

Lu - Amigos cariocas não se iludam. Sair nas ruas do Centro de BH em dia de clássico, é tão arriscado quanto estar na região da Central do Brasil e Leopoldina em dia de Flamengo e Vasco. O bicho pega! Polícia montada e esquemas para que as torcidas não encontrem. Certa vez mudei meu destino, que seria a Lagoa da Pampulha (região onde fica o Mineirão), quando percebi que no ponto de ônibus aglomeravam-se rapazes vestidos com certas camisas azuis. Conselho ao Carioca, não perca o hábito de saber antes de escolher seu programa de final de semana, se haverá algum jogo no Minerão de um dos dois grandes times da capital. Falando nisso, têm outros?

Mau - Geralmente no Rio você sabe quem fez o gol em um clássico mesmo sem estar de frente da televisão. Uma torcida grita solta fogos e a outra fica mais quieta. Aqui você tem que estar vendo o jogo. Muitos torcedores não gritam o nome do próprio time, mas do time adversário como uma forma de deboche. Fica uma confusão e você realmente não sabe quem fez o gol.

Lu - Quando se mora próximo a bares temáticos do Galo ou da Raposa a coisa é pior. Já moramos em dois endereços aqui na cidade, e num havia um bar temático do Galo bem na esquina de cima. E hoje nosso condomínio fica em frente a um bar do Cruzeiro. A torcida parece estar no estádio. Típico de jogos de futebol e homens regados a cerveja. É a melhor Política do Pão e Circo do mineiro, no dia seguinte se esquece até das altíssimas tarifas das passagens de ônibus. O assunto é só Atlético e Cruzeiro. E dura até o próximo jogo...

Mau - O campeonato mineiro, como outros campeonatos que possuem só dois grandes times, já começam com a final definida. Não espere por coisa diferente. O galo e a raposa irão acertar as suas contas no final, com a vitória daquele que estiver menos desorganizado. O Mineiro não é preparativo para o Brasileirão pois os times pequenos não são adversários competentes, com exceção do América e Ipatinga, que de vez em quando fazem uma graça e vão para final.

Lu - Sem brincadeira, tem em todos canais debates fervorosos a respeito dos clubes. Na Alterosa (retransmissora local do SBT), tem uma "Bancada Democrática" : Atlético, Cruzeiro e América Mineiro. Analisemos: enquanto rola o Campeonato Mineiro até vai, mas no Brasileirão é um marasmo pro América. E a participação do Atlético não é lá muito animadora... (Bem, pro torcedor parece que é...) Os canais de TV tentam estimular a todo custo o torcedor a assistir às notícias, mesmo quando não tem notícia. Quem quer saber da vida pessoal de um jogador que ao final do ano vai ser dispensado porque não deu resultado? E é só isso que falam sobre o time, porque a dinâmica é muito grande...

Mau - Quando Galo e Cruzeiro estão jogando com outros adversários todas as duas torcidas irão assistir o jogo. Para uma torcida o objetivo e torcer a favor e para outra é torcer contra. Isso é comum em outros estados, mas aqui é importante frisar que não existem alternâncias. É sempre a mesma coisa.

Lu - Desde que chegamos a Beagá tem dado mais Cruzeiro que Atlético. E o Cruzeiro vem se apresentando muito bem no Brasileiro e na Libertadores. Mas é feito aquelas histórias repetitivas do Chaves que assistimos desde criança, no final do campeonato (ou semi-final, né Raposa!) a gente já sabe o que vai acontecer...

segunda-feira, 9 de maio de 2011

O Mineiro não perde o Trem

Lu - Não existe nada mais clássico que ir de Belo Horizonte até Vitória de trem. É uma viagem bucólica, tem-se a oportunidade de ver diversos vilarejos e se encantar com a beleza das gerais... Mauro e eu há bastante tempo queríamos fazer o passeio. Faz meio que parte de nosso batismo como novos mineiros: sair de BH pra tomar banho de mar no Espírito Santo.

Mau - Com meus botões uma outra expectativa foi a de conhecer o estado do meu avó paterno, Seu Francisco. Muitas coisas já haviam sendo ditas sobre a capital capixaba e meu interesse urbanístico de conhecer outra capital litoranea alimentavam o meu imaginário sobre Vitória. Mas como a Lú disse anteriormente, acredito também que a viagem dá a oportunidade de apreciar belas paisagens.

Lu - Minha experiência com trens é meio limitada, Central do Brasil – Nilópolis. Aquela música ambiente: “Dragão-chinês! Vai Dragão-chinês!” ou “Dez Paçoquita um real!” E evitando o penúltimo vagão porque a música era outra. Meus amigos evangélicos que me perdoem...

Lu -Bem, eu merecida elevar minha cultura a respeito de trens. Primeiro, meu amado esposo esqueceu de comprar as concorridíssimas passagens(nosso feriado começou mais cedo, e terminou também, pois todos queriam voltar no domingo, voltamos no sábado). Até aí tudo bem. Só fiz uma exigência, Classe Executiva, por favor! Ouvi comentários de que a classe econômica era uma tristeza...

Lu -Chegamos alegrinhos, armados com filmes, músicas e sono para passas as quase 14 horas no trem. Eu sei é muito tempo, mas ninguém aqui falou que seria um trem-bala, certo?

Lu - Classe Executiva. Um trem, com cadeiras enfileiradas como a de um ônibus, reclínio mediano das cadeiras, que eram fofinhas, pouco espaço pra guardar a bagagem de todos. Até aí tranquilo. O trem saiu no horário, tudo patrocinado pela Vale.

Lu - Café da Manhã. O trem tinha restaurante e lanchonete. Mas não tinha pão de queijo. Não tinha Pão de Queijo! Como um trem sai de BH sem pão de queijo. Primeira decepção.

Mau - Nessa coisa de cafés e lanchonetes eu tive a oportunidade de buscar os lanches e testar minhas habilidades de equilíbrio que ganhei ao longos dos anos no "Santa Cruz Direto". A distância do nosso vagão para o vagão restaurante era enorme e a circulação de pessoas pelo trem era contínua e muito intensa. Informo aqui que não derramei café em ninguém ao longo do trajeto.

Lu - Voltamos pros nossos acentos e já haviam ligado o ar. Que frio. Encolhida passei 14 horas! Tinha um casaquinho do tipo só pra constar. Enquanto o Mauro cochilava eu tremia de frio. Enquanto o Mauro cochilava eu imaginava a alegria da Classe Econômica. Uma coisa meio Titanic. Lá as pessoas deviam conversar, quem sabe sem ar condicionado, rir, imaginei até um espaço para dançar como fizeram Rose e Jack, como no filme! Que tédio a Classe Executiva.

Mau - É verdade que não atinamos para a eventualidade de um frio maior que nós poderíamos suportar, mas não foi tão ruim assim.

ps: eu não cochilei tanto assim....

Lu - Aos poucos os lugarejos foram ficando meio iguais. 26 paradas! Entra gente sai gente. Frio. Circula gente pra lá e pra cá. Nos momentos que meu companheiro estava consciente vimos Modern Family no notebook, jogamos joguinhos de Atari, mas em 3 horas a bateria acabou. Tédio de novo. Ouvi minhas músicas, mas eu não tinha 10 horas de músicas. Tédio.

Mau - Hehehehe... Eu vim armado com umas 5 horas de seriados no celular.

Lu - Gente, era Star Trek... 5 horas das mais diversas versões de Star Trek, tava perdida...

Lu - 14 horas depois...Chegamos! Chegamos! Sobrevivi!!! Do lado de fora uma chuva daquelas, Carandaí estava debaixo d'água. Um tumulto de gente disputando um taxi no dente! Mas estávamos fora aquele trem. Ficamos culturalmente mais elevados. Agora sabemos o que é viajar de trem, estamos batizados, somos mais mineiros agora... Mas só uma notícia: o Mauro comprou ida e volta.

Mau - Hehehehe...

terça-feira, 3 de maio de 2011

A primeira praça do bairro Camargos

Mau - Caros leitores, ao chegar em Belo Horizonte eu e Luciana nos articulamos para buscar uma alternativa para a moradia de aluguel e procuramos conhecer a cidade e escolher um bairro que seria nossa nova vizinhança. Os critérios inicialmente passaram pela alternativa de um transporte de qualidade e proximidade do trabalho da Luciana. Depois de algumas visitas e explorações pelos bairros, finalmente escolhemos o bairro Camargos. O Camargos é um bairro da regional noroeste de Belo Horizonte que possui uma ocupação de bairro de subúrbio com casas, vários condomínios - ampla especulação imobiliária - fabricas e grandes prestadores de serviço.



Lu - Desculpe, meu amor, mas transporte público de qualidade em BH. Tô esperando... Mas gostaríamos de um lugar próximo ao metrô, que é o único lugar que não congestiona na cidade, e que eu pudesse pegar uma condução a menos pro trabalho. E que em compensação, não ficasse muito distante para o Mau chegar ao trabalho dele. Já eu trabalho muito distante, em outra cidade. Fica uns 5Km depois daquela plaquinha "Aqui Judas perdeu as botas". Mas numa outra oportunidade relato meu drama diário...

Mau - Contudo o que não atentamos para a nossa escolha foi a presença de espaços públicos como praças. Na verdade o bairro não dispunha de nenhuma.

Lu - Quando chegamos no bairro, começamos a conhecê-lo pelo mapa e pelo Google Maps. Ficamos animadinhos porque o local já tinha o nome de praça. Chegamos lá era só um matagal abandonado...

Mau - Depois de um ano morando no bairro a prefeitura fez uma pequena obra em um terreno subutilizado, criando assim a primeira praça do bairro Camargos.

Mau - Um problema em Belo Horizonte é a questão das praças e dos espaços públicos. Diferente das opções na área central, a periferia Belo Horizontina é carente de espaços públicos de qualidade. Muitas praças são rotatórias e algumas são apenas espaços residuais do sistema viário.



Mau - A primeira praça do Camargos possui boa apropriação por famílias, jovens e pessoas do bairro. Possui um bom mirante que aproveita a visada para Belo Horizonte e Contagem, além de agregar equipamentos de lazer ativo e contemplativo.

Lu - A praça é uma gracinha. Mudou a vida de todos no entorno. Agora encontramos os vizinhos lá. Crianças, cãezinhos e seu dono passeando saltitantes. O povo da vida saudável caminhando ou correndo. Mamães e seus bebês curtindo o espaço. Adorei a novidade e claro, eu que nunca tive uma praça de verdade pertinho de casa, também tenho dado uma voltinha por lá!



Mau - Resolvi escrever esse post pois valorizo e defendo os espaços públicos como contextos da prática da diversidade e da liberdade pública. O que venho observado é a eliminação continua e consciente destes espaços pelas prefeituras do Brasil afora.

Lu - Ele também está revoltado porque cresceu tendo uma praça bem na esquina de casa, onde ele brincou e tem excelentes lembranças. Essa praça vai ser utilizada para a construção do Hospital da Mulher no Rio de Janeiro. Vão-se embora as boas lembranças... E também não sei se ter um hospital como vizinho é melhor que ter uma praça...

Mau - O caso da praça e do hospital será tratado futuramente em um artigo no meu site pessoal, www.kazaerua.com.

Lu - E você, tem uma praça perto de casa, onde você possa descansar, passar o tempo ou praticar esportes?

domingo, 1 de maio de 2011

Sacolas mágicas em Belo Horizonte

Mau - Há algum tempo a prefeitura de Belo Horizonte vem anunciando a aplicação da nova lei da "sacolinha", que proíbe a utilização das sacolas plásticas em estabelecimentos comeciais da capital. Quando ouvimos todo esse alvoroço da mídia, a primeira pergunta que nos veio a cabeça foi a seguinte: "Será que essa história vai dar certo?". O receio foi grande pois apesar de existir um discurso consolidado sobre o assunto, existe uma inércia muito grande para esse tipo de mudança. Será que os comerciantes vão topar? A prefeitura vai efetivar a devida fiscalização?

Lú - Discordo de você Mauro, quando fala sobre a inércia. Há bem uns seis meses as tais sacolinhas retornáveis já estavam sendo vendidas nos hipermercados, em uma lojinha ou outra... Aqueles já eram sinais de que os bons tempos das sacolinhas (que nos economizavam bons reais em sacos de lixo) estavam acabando. Mas como boa carioca a pergunta ainda ficava: "Será que essa lei pega?"

Mau - Moramos em um bairro suburbano aqui em Belo Horizonte, e pelo que temos acompanhando a coisa está caminhando. Pequenos comerciantes de bairro estão realmente trocando as sacolas, adotando sacos de papel e sacolas de plástico biodegradável.

Lú - Na verdade a gente só descobriu que a coisa era pra valer quando o Mauro voltou da padaria trazendo um saquinho de papel com pão-de-queijo numa das mãos e o litro de leite na outra. Com um sorriso amarelo ele percebeu que até a padaria do bairro estava levando a sério a determinação da prefeitura. Pra vocês terem noção até no sacolão o povo desavisado (desavisado não sei como, se a Globo fez até contagem regressiva pro dia da implantação da lei) tinha que carregar as verduras e algumas frutinhas nas mãos. Mas não se pode negar que a prefeitura tem excelentes argumentos: Mil reais e a multa dobra em caso de reincidência. Coitado do Seu Zezinho do sacolão, uma multa dessa é sinônimo de falência pra ele!


Pra quem quiser saber mais a respeito é só acessar http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/contents.do?evento=conteudo&idConteudo=46377&chPlc=46377&termos=sacolas