quarta-feira, 18 de maio de 2011

Você é Galo ou Cruzeiro?

Mau - Futebol, a paixão nacional. Aqui em Minas não poderia ser diferente. Quando cheguei logo percebi que a cidade estava dividida em duas. Uma parte era alvinegra e a outra azul.

Lu - Futebol é bem mais que um esporte, é como uma herança que passa de pai para filho. São famílias que têm como patrimônio serem alvinegras ou azul-celeste. A coisa é tão séria, que uma vez um dos meus alunos perguntou a minha religião, respondi: " Não tenho". Não quis causar polêmica, e ficou tudo por isso mesmo. Em outra ocasião, perguntaram-me: "Você é Atlético ou Cruzeiro?", e respondi: "Nenhum dos dois, não tenho time". A sala virou um caos, todos protestavam: "Fessora, você precisa ter um time!". Conclusão, por aqui futebol parece ser bem mais imprescindível que religião.

Mau - Ao passar do tempo comecei a ver que as duas torcidas eram muito diferentes. Torcedores do Galo possuiam uma paixão imensa pelo seu time. Como no Hino do Grêmio, os atleticanos não se importavam muito com o baixo rendimento do time, eles estariam onde o Atlético estivesse.

Lu - Em resumo, o torcedor do Galo é o mais apaixonado que já vi. A gigantesca torcida do Flamengo vê o time dar algum resultado. A Fiel também. Mas seguir o Galo... tem que ter muita fé e persistência.

Mau - Já os cruzeirenses tem uma confiança mais moderada, pelos títulos já conquistados, e muito orgulho por possuir um time relativamente organizado. Após os jogos, no trabalho a divisão podia ser vista nos comentários e discussões, na rua pelas buzinadas e manifestações de louvor ao pavilhão vencedor.

Lu - Amigos cariocas não se iludam. Sair nas ruas do Centro de BH em dia de clássico, é tão arriscado quanto estar na região da Central do Brasil e Leopoldina em dia de Flamengo e Vasco. O bicho pega! Polícia montada e esquemas para que as torcidas não encontrem. Certa vez mudei meu destino, que seria a Lagoa da Pampulha (região onde fica o Mineirão), quando percebi que no ponto de ônibus aglomeravam-se rapazes vestidos com certas camisas azuis. Conselho ao Carioca, não perca o hábito de saber antes de escolher seu programa de final de semana, se haverá algum jogo no Minerão de um dos dois grandes times da capital. Falando nisso, têm outros?

Mau - Geralmente no Rio você sabe quem fez o gol em um clássico mesmo sem estar de frente da televisão. Uma torcida grita solta fogos e a outra fica mais quieta. Aqui você tem que estar vendo o jogo. Muitos torcedores não gritam o nome do próprio time, mas do time adversário como uma forma de deboche. Fica uma confusão e você realmente não sabe quem fez o gol.

Lu - Quando se mora próximo a bares temáticos do Galo ou da Raposa a coisa é pior. Já moramos em dois endereços aqui na cidade, e num havia um bar temático do Galo bem na esquina de cima. E hoje nosso condomínio fica em frente a um bar do Cruzeiro. A torcida parece estar no estádio. Típico de jogos de futebol e homens regados a cerveja. É a melhor Política do Pão e Circo do mineiro, no dia seguinte se esquece até das altíssimas tarifas das passagens de ônibus. O assunto é só Atlético e Cruzeiro. E dura até o próximo jogo...

Mau - O campeonato mineiro, como outros campeonatos que possuem só dois grandes times, já começam com a final definida. Não espere por coisa diferente. O galo e a raposa irão acertar as suas contas no final, com a vitória daquele que estiver menos desorganizado. O Mineiro não é preparativo para o Brasileirão pois os times pequenos não são adversários competentes, com exceção do América e Ipatinga, que de vez em quando fazem uma graça e vão para final.

Lu - Sem brincadeira, tem em todos canais debates fervorosos a respeito dos clubes. Na Alterosa (retransmissora local do SBT), tem uma "Bancada Democrática" : Atlético, Cruzeiro e América Mineiro. Analisemos: enquanto rola o Campeonato Mineiro até vai, mas no Brasileirão é um marasmo pro América. E a participação do Atlético não é lá muito animadora... (Bem, pro torcedor parece que é...) Os canais de TV tentam estimular a todo custo o torcedor a assistir às notícias, mesmo quando não tem notícia. Quem quer saber da vida pessoal de um jogador que ao final do ano vai ser dispensado porque não deu resultado? E é só isso que falam sobre o time, porque a dinâmica é muito grande...

Mau - Quando Galo e Cruzeiro estão jogando com outros adversários todas as duas torcidas irão assistir o jogo. Para uma torcida o objetivo e torcer a favor e para outra é torcer contra. Isso é comum em outros estados, mas aqui é importante frisar que não existem alternâncias. É sempre a mesma coisa.

Lu - Desde que chegamos a Beagá tem dado mais Cruzeiro que Atlético. E o Cruzeiro vem se apresentando muito bem no Brasileiro e na Libertadores. Mas é feito aquelas histórias repetitivas do Chaves que assistimos desde criança, no final do campeonato (ou semi-final, né Raposa!) a gente já sabe o que vai acontecer...

segunda-feira, 9 de maio de 2011

O Mineiro não perde o Trem

Lu - Não existe nada mais clássico que ir de Belo Horizonte até Vitória de trem. É uma viagem bucólica, tem-se a oportunidade de ver diversos vilarejos e se encantar com a beleza das gerais... Mauro e eu há bastante tempo queríamos fazer o passeio. Faz meio que parte de nosso batismo como novos mineiros: sair de BH pra tomar banho de mar no Espírito Santo.

Mau - Com meus botões uma outra expectativa foi a de conhecer o estado do meu avó paterno, Seu Francisco. Muitas coisas já haviam sendo ditas sobre a capital capixaba e meu interesse urbanístico de conhecer outra capital litoranea alimentavam o meu imaginário sobre Vitória. Mas como a Lú disse anteriormente, acredito também que a viagem dá a oportunidade de apreciar belas paisagens.

Lu - Minha experiência com trens é meio limitada, Central do Brasil – Nilópolis. Aquela música ambiente: “Dragão-chinês! Vai Dragão-chinês!” ou “Dez Paçoquita um real!” E evitando o penúltimo vagão porque a música era outra. Meus amigos evangélicos que me perdoem...

Lu -Bem, eu merecida elevar minha cultura a respeito de trens. Primeiro, meu amado esposo esqueceu de comprar as concorridíssimas passagens(nosso feriado começou mais cedo, e terminou também, pois todos queriam voltar no domingo, voltamos no sábado). Até aí tudo bem. Só fiz uma exigência, Classe Executiva, por favor! Ouvi comentários de que a classe econômica era uma tristeza...

Lu -Chegamos alegrinhos, armados com filmes, músicas e sono para passas as quase 14 horas no trem. Eu sei é muito tempo, mas ninguém aqui falou que seria um trem-bala, certo?

Lu - Classe Executiva. Um trem, com cadeiras enfileiradas como a de um ônibus, reclínio mediano das cadeiras, que eram fofinhas, pouco espaço pra guardar a bagagem de todos. Até aí tranquilo. O trem saiu no horário, tudo patrocinado pela Vale.

Lu - Café da Manhã. O trem tinha restaurante e lanchonete. Mas não tinha pão de queijo. Não tinha Pão de Queijo! Como um trem sai de BH sem pão de queijo. Primeira decepção.

Mau - Nessa coisa de cafés e lanchonetes eu tive a oportunidade de buscar os lanches e testar minhas habilidades de equilíbrio que ganhei ao longos dos anos no "Santa Cruz Direto". A distância do nosso vagão para o vagão restaurante era enorme e a circulação de pessoas pelo trem era contínua e muito intensa. Informo aqui que não derramei café em ninguém ao longo do trajeto.

Lu - Voltamos pros nossos acentos e já haviam ligado o ar. Que frio. Encolhida passei 14 horas! Tinha um casaquinho do tipo só pra constar. Enquanto o Mauro cochilava eu tremia de frio. Enquanto o Mauro cochilava eu imaginava a alegria da Classe Econômica. Uma coisa meio Titanic. Lá as pessoas deviam conversar, quem sabe sem ar condicionado, rir, imaginei até um espaço para dançar como fizeram Rose e Jack, como no filme! Que tédio a Classe Executiva.

Mau - É verdade que não atinamos para a eventualidade de um frio maior que nós poderíamos suportar, mas não foi tão ruim assim.

ps: eu não cochilei tanto assim....

Lu - Aos poucos os lugarejos foram ficando meio iguais. 26 paradas! Entra gente sai gente. Frio. Circula gente pra lá e pra cá. Nos momentos que meu companheiro estava consciente vimos Modern Family no notebook, jogamos joguinhos de Atari, mas em 3 horas a bateria acabou. Tédio de novo. Ouvi minhas músicas, mas eu não tinha 10 horas de músicas. Tédio.

Mau - Hehehehe... Eu vim armado com umas 5 horas de seriados no celular.

Lu - Gente, era Star Trek... 5 horas das mais diversas versões de Star Trek, tava perdida...

Lu - 14 horas depois...Chegamos! Chegamos! Sobrevivi!!! Do lado de fora uma chuva daquelas, Carandaí estava debaixo d'água. Um tumulto de gente disputando um taxi no dente! Mas estávamos fora aquele trem. Ficamos culturalmente mais elevados. Agora sabemos o que é viajar de trem, estamos batizados, somos mais mineiros agora... Mas só uma notícia: o Mauro comprou ida e volta.

Mau - Hehehehe...

terça-feira, 3 de maio de 2011

A primeira praça do bairro Camargos

Mau - Caros leitores, ao chegar em Belo Horizonte eu e Luciana nos articulamos para buscar uma alternativa para a moradia de aluguel e procuramos conhecer a cidade e escolher um bairro que seria nossa nova vizinhança. Os critérios inicialmente passaram pela alternativa de um transporte de qualidade e proximidade do trabalho da Luciana. Depois de algumas visitas e explorações pelos bairros, finalmente escolhemos o bairro Camargos. O Camargos é um bairro da regional noroeste de Belo Horizonte que possui uma ocupação de bairro de subúrbio com casas, vários condomínios - ampla especulação imobiliária - fabricas e grandes prestadores de serviço.



Lu - Desculpe, meu amor, mas transporte público de qualidade em BH. Tô esperando... Mas gostaríamos de um lugar próximo ao metrô, que é o único lugar que não congestiona na cidade, e que eu pudesse pegar uma condução a menos pro trabalho. E que em compensação, não ficasse muito distante para o Mau chegar ao trabalho dele. Já eu trabalho muito distante, em outra cidade. Fica uns 5Km depois daquela plaquinha "Aqui Judas perdeu as botas". Mas numa outra oportunidade relato meu drama diário...

Mau - Contudo o que não atentamos para a nossa escolha foi a presença de espaços públicos como praças. Na verdade o bairro não dispunha de nenhuma.

Lu - Quando chegamos no bairro, começamos a conhecê-lo pelo mapa e pelo Google Maps. Ficamos animadinhos porque o local já tinha o nome de praça. Chegamos lá era só um matagal abandonado...

Mau - Depois de um ano morando no bairro a prefeitura fez uma pequena obra em um terreno subutilizado, criando assim a primeira praça do bairro Camargos.

Mau - Um problema em Belo Horizonte é a questão das praças e dos espaços públicos. Diferente das opções na área central, a periferia Belo Horizontina é carente de espaços públicos de qualidade. Muitas praças são rotatórias e algumas são apenas espaços residuais do sistema viário.



Mau - A primeira praça do Camargos possui boa apropriação por famílias, jovens e pessoas do bairro. Possui um bom mirante que aproveita a visada para Belo Horizonte e Contagem, além de agregar equipamentos de lazer ativo e contemplativo.

Lu - A praça é uma gracinha. Mudou a vida de todos no entorno. Agora encontramos os vizinhos lá. Crianças, cãezinhos e seu dono passeando saltitantes. O povo da vida saudável caminhando ou correndo. Mamães e seus bebês curtindo o espaço. Adorei a novidade e claro, eu que nunca tive uma praça de verdade pertinho de casa, também tenho dado uma voltinha por lá!



Mau - Resolvi escrever esse post pois valorizo e defendo os espaços públicos como contextos da prática da diversidade e da liberdade pública. O que venho observado é a eliminação continua e consciente destes espaços pelas prefeituras do Brasil afora.

Lu - Ele também está revoltado porque cresceu tendo uma praça bem na esquina de casa, onde ele brincou e tem excelentes lembranças. Essa praça vai ser utilizada para a construção do Hospital da Mulher no Rio de Janeiro. Vão-se embora as boas lembranças... E também não sei se ter um hospital como vizinho é melhor que ter uma praça...

Mau - O caso da praça e do hospital será tratado futuramente em um artigo no meu site pessoal, www.kazaerua.com.

Lu - E você, tem uma praça perto de casa, onde você possa descansar, passar o tempo ou praticar esportes?

domingo, 1 de maio de 2011

Sacolas mágicas em Belo Horizonte

Mau - Há algum tempo a prefeitura de Belo Horizonte vem anunciando a aplicação da nova lei da "sacolinha", que proíbe a utilização das sacolas plásticas em estabelecimentos comeciais da capital. Quando ouvimos todo esse alvoroço da mídia, a primeira pergunta que nos veio a cabeça foi a seguinte: "Será que essa história vai dar certo?". O receio foi grande pois apesar de existir um discurso consolidado sobre o assunto, existe uma inércia muito grande para esse tipo de mudança. Será que os comerciantes vão topar? A prefeitura vai efetivar a devida fiscalização?

Lú - Discordo de você Mauro, quando fala sobre a inércia. Há bem uns seis meses as tais sacolinhas retornáveis já estavam sendo vendidas nos hipermercados, em uma lojinha ou outra... Aqueles já eram sinais de que os bons tempos das sacolinhas (que nos economizavam bons reais em sacos de lixo) estavam acabando. Mas como boa carioca a pergunta ainda ficava: "Será que essa lei pega?"

Mau - Moramos em um bairro suburbano aqui em Belo Horizonte, e pelo que temos acompanhando a coisa está caminhando. Pequenos comerciantes de bairro estão realmente trocando as sacolas, adotando sacos de papel e sacolas de plástico biodegradável.

Lú - Na verdade a gente só descobriu que a coisa era pra valer quando o Mauro voltou da padaria trazendo um saquinho de papel com pão-de-queijo numa das mãos e o litro de leite na outra. Com um sorriso amarelo ele percebeu que até a padaria do bairro estava levando a sério a determinação da prefeitura. Pra vocês terem noção até no sacolão o povo desavisado (desavisado não sei como, se a Globo fez até contagem regressiva pro dia da implantação da lei) tinha que carregar as verduras e algumas frutinhas nas mãos. Mas não se pode negar que a prefeitura tem excelentes argumentos: Mil reais e a multa dobra em caso de reincidência. Coitado do Seu Zezinho do sacolão, uma multa dessa é sinônimo de falência pra ele!


Pra quem quiser saber mais a respeito é só acessar http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/contents.do?evento=conteudo&idConteudo=46377&chPlc=46377&termos=sacolas