domingo, 7 de outubro de 2012

Trilhos na capital mineira

Mauro - Esse é um post que há tempos vinha prometido escrever junto com a Luciana. Tema recorrente de nossas conversas, o "Trem metropolitano" mineiro, para os mineiros "metrô". Possui essa designação devido a sua estação Eldorado, no município de Contagem, seu atendimento de acesso ao Centro de Belo Horizonte a diversos municípios da região metropolitana e seu intervalo mínimo (nem sempre constante) de 4 minutos no horário de pico.

Luciana -  Preciso defender o Metrô de BH! Metrô, segundo a Wikipédia - que eu consulto como uma fonte confiabilíssima, sobretudo quando quero defender meu ponto de vista... rsrsrs - vem da palavra metropolitano, por isso os mineiros estão corretos ao designar desse modo o transporte sobre trilhos daqui. Errada, nesse caso, é a Supervia designar trens os transportes do Rio.

Mauro - Quando cheguei em Bh fiquei sabendo que a cidade tinha um metrô. Meu interesse como arquiteto me fez conhecê-lo, e nesse processo tive algumas surpresas. O metrô belo-horizontino no primeiro contato trouxe a imagem clara dos trens da Central do Brasil. Alimentados por fiação aérea, sem arcondicionado e na sua maior extensão circulando por superfície.

Luciana - Bizarra a parada! Choque cultural total. Também tive meu momento de estranhamento, mas claro estético. As estações poderiam ser mais bonitinhas... Acostumada com uma Cinelândia, Carioca ou Siqueira Campos, chego e vejo um monte de caixotes de concreto. Ah, não! Depois que inauguraram a Estação Cidade Nova, dá vergonha alheia a Estação Lagoinha e qual quer outra também... Mas mesmo assim não deixa de ser metrô. Hehehe...

Mauro - Quando mudamos da Serra (bairro da região Centro-sul de BH) para o Camargos (bairro da região Noroeste de BH) utilizamos a proximidade das estações do metrô como um dos critérios para a escolha do imóvel. Durante um bom tempo o contato com o trânsito, engarrafamentos e transporte coletivo da cidade me trouxe uma visão muito negativa da mobilidade na cidade.
Nesse período, quando residiamos no Camargos, fazia parte da minha viagem de metrô (18 min.) e o restante de ônibus através de uma estação de integração próxima a rodoviária na Lagoinha (bairro lindeiro a área central de BH). O metrô sempre foi muito tranquilo, mas ônibus era sempre uma surpresa. Sextas-feiras, jogos do Galo, manifestações na Avenida Afonso Pena, eram motivos suficientes para o transito ficar um caos, e fazer uma viagem de 10 minutos estender em 40 de penitência.

Luciana - Eu, que trabalho em Esmeraldas - cidadezinha da região metropolitana muito distante para os padrões de distância belo-horizontinos, logo ali para os padrões cariocas (o povo que sai da Baixada para o Centro todo dia vai entender) - desde de 2008, comecei a usar o serviço do metrô + ônibus antes mesmo do Mauro. Pelo meu horário de trabalho, sempre peguei o contra-fluxo do metrô e dos ônibus. Tive poucos problemas com o trânsito daqui. Supertranquilo... Mas posso afirmar que quando o trânsito para, para de verdade! Os eventos cataclísmicos do trânsito daqui são um assunto para um outro post...

Mauro - Nas conversas com amigos de trabalho sobre o metrô, fiquei sabendo que ele é uma intervenção relativamente recente (começou a funcionar em 1986). Muitos colegas em Bh nunca utilizaram o metrô e já ouvi muita gente comentar que é um modal que não leva ninguém a lugar algum.

Luciana - Desculpe, mas eu precisava interromper... Quando ouvi essa frase pela primeira vez fiquei chocada "o metrô de Belo Horizonte leva do nada ao lugar nenhum". Morava perto da Estação Cidade Industrial e comecei a me questionar se estava no nada ou no lugar nenhum. O pior é que ouvi a frase de um candidato às eleições na época. Tá explicado o desprezo estético pelas estações... 



Mauro - Aqui em BH, devido ao traçado, a infraestrutura das estações e modelo operacional do metrô, a capacidade do metrô e sua velocidade são reduzidas em comparação as versões de São Paulo e Rio.
Apesar de tudo acredito que metrô daqui é o único modal que permite as pessoas o deslocamento com mais confiança e conforto. Com relação ao ônibus, modal que atende a grande maioria, podemos afirmar que é grande refém do modelo de cidade que Belo Horizonte, hoje, prioriza. O modelo do automóvel.

Luciana - Mauro e seu ódio aos automóveis... Prometo um post sobre os primeiros passeios com o Mauro motorizado e sua mudança de ponto de vista.

Mauro - No metrô as pessoas são bem educadas e até o tumulto de entrada na estação terminal Eldorado é bem mais light se compararmos com as cenas mais tranquilas da entrada do Santa Cruz na Central do Brasil.

Luciana - Ele sisma de comparar o metrô daqui com os trens do Rio. Parece até que nunca fez aquela baldeação (maldita) na Estação do Estácio. Aqui em BH o povo entra tranquilinho, mas também reclama de tudo. Um número maior de pessoas em pé já é motivo para se ouvir: "Isso aqui está parecendo São Paulo!" Dá vontade de colocá-los num vagão da Linha 2 do Rio, no horário do rush.

Mauro - Agora, morando em Contagem (cidade vizinha à BH), sempre pego o metrô na estação Eldorado. Saio de casa de bicicleta e em 10 minutos já estou prendendo a magrela no paraciclo da estação.

A magrela...

Mauro - A experiência, apesar de um pouco trabalhosa, é boa. Não passo raiva, devido ao trânsito, e vou pedalando com brisa da manhã.

Mauro - Vira e mexe o metrô é promessa de campanha eleitoral. A linha 1 já possui alguns problemas operacionais e as outras ainda não sairam do papel. Em abril deste ano a Presidenta Dilma anunciou o encaminhamento de recursos para a expansão do metrô até a Savassi (bairro da zona Centro-Sul de BH) e o Barreiro ( região localizada mais ao sul de BH). Será criada a Metrô Minas e enfim BH e os municípios da região metropolitana poderão parar de reclamar do Governo Federal com relação ao encaminhamento de recursos para o metrô. Hoje o metrô é gerido pela CBTU, e por conta disso não há discurso e ação municipal ou estadual adequado para a sua melhoria. A partir da Metrô Minas vejo que o estado e municipios deverão ser mais pró-ativos em vez de adotar o discurso da reclamação.

Mauro - Em paralelo rola o BRT e projetos de monotrilos até Confins (cidade onde fica o aeroporto de destino pra BH). Tenho esperança que esses modais compartilhem os conceitos já presentes no transporte sobre trilhos e permitam a cidade avançar em modelo mais sustentável de cidade. Enquanto isso defendo o metrô e espero (como meu colega de trabalho gosta de afirmar) "A Mulher Pelada Instantânea¹".

1. Meu colega gosta de afirmar que antes do metrô de BH chegar até a Savassi ele verá uma mulher que aparecerá do nada instantaneamente na frente dele. A mulher não precisa ser bonita ou jovem. É a maneira que ele buscou pra enfatizar a sua descrença no processo de expansão do metrô que se realiza no momento.


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